quarta-feira, 6 de julho de 2016

O céu de julho


É mais azul, o céu de julho. É um céu mais sereno, com brandos aguaceiros que nos pousam nos ombros sem pedir casacos sobre a pele despida. Debaixo do céu de julho, sou sempre mais feliz, mais calma, mais calada... Debaixo do céu de julho, abro gavetas que só são escancaradas nesta altura do ano, e é em julho que visito sem medo o cemitério onde sepultei os sonhos perdidos, onde pousei os de asas cortadas... 
Em julho acredito que tudo é possível, porque um azul tão azul, não existe em vão...
Caminho debaixo do céu de julho, dentro de um vestido que não usava há quatro anos. O vestido continua a ser belo. É julho e eu continuo a sentir-me bela dentro do meu vestido que esvoaça à volta do meu corpo com asas de algodão macio. É um vestido azul - de um azul único -, como só o consegue ser o céu de julho. Dentro do meu vestido de nuvem, penso que por mais que me custe a acreditar, julho regressa. E quase sempre, ainda que tão estranho pareça, a vida resolve-se sozinha.

5 comentários:

Suzete Brainer disse...

Sim, "a vida resolve-se sozinha."
Quando nos conscientizamos de sermos
aprendizes da vida, ela nos ensina
e até resolve situações que imaginávamos
tão importantes. O importante é a leveza
de vestir um céu azul por dentro de nós!...

O seu é um belo voo azul, Poetisa.
Grata por voar aqui no seu texto
poético de excelência e beleza imagética.
Abraço de paz!

Jaime Portela disse...

Um excelente texto.
Gostei imenso, parabéns.
Anna, tem um bom fim de semana.
Beijo.

Anna disse...

Abraço retribuído, Suzete :)
Obrigada!

Anna disse...

Grata pela visita e pelas palavras, Jaime :)

Beijo

Gustavo disse...

é em julho que a Anna, dentro do seu vestido azul de algodão-nuvem, se transforma no próprio céu! :) lindíssimo! estava aqui a pensar (muito seriamente) o quanto se pode ensinar/aprender/comunicar com um texto destes, sobretudo num ambiente escolar!

Abraço, "stôra"! :)