domingo, 6 de dezembro de 2015

Às vezes


Aceitar o dia. O que vier.
Atravessar mais ruas do que casas,
mais gente do que ruas. Atravessar
a pele até ao outro lado. Enquanto
faço e desfaço o dia. O teu coração
dorme comigo. Agasalha-me as noites
e as manhãs são frias quando me levanto.
E pergunto sempre onde estás e porque
as ruas deixaram de ser rios. Às vezes
uma gota de água cai ao chão
como se fosse uma lágrima. Às vezes
não há chão que baste para a enxugar.

Rosa Alice Branco, in Soletrar o Dia

6 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Aceitemos o dia
até ser dia
e o dia verdadeiro
acontecer
em que as ruas sejam rios
e o chão (nos) baste

Manuel Veiga disse...

tão belo e dorido poema.

e sempre com prazer que se descobre um novo poeta

beijo

(gosto de a saber la no meu blog rss)

Anna disse...

Tão belo, Rogério...
Obrigada, abraço :)

Anna disse...

E eu gosto de o visitar, Herético :)
Abraço, bom fds :)

Majo disse...

~~~
Será poema ou prosa poética?

Seja como for,

de uma beleza muito singular,

que teve o destaque merecido

neste espaço

de notável bom gosto.

~~~~ Beijinhos. ~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Anna disse...

Obrigada, Majo!
Beijinho