Fecham-se devagarinho as portas deste Setembro que se despede agora. Foi um mês quente, doce, rico em emoções que nem sempre soube gerir. Um mês de recomeço e de datas inesquecíveis, de praias desertas, da cidade vazia que volta a pertencer-nos e do regresso ao trabalho... Um mês que gostei de saborear. E este último dia do mês, mudou todos os que se lhe seguem, como uma janela aberta refrescando os aposentos do meu peito de alento e coragem... De olhos postos no horizonte, tenho o coração cheio de esperança e brinca na minha boca um sorriso tímido, no momento em que abro de par em par as janelas de novos dias...
Que dias há que na alma me tem posto/ um não sei quê, que nasce não sei onde,/ vem não sei como, e dói não sei porquê. - Luiz Vaz de Camões
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Mar de silêncio
Às vezes há palavras que não saem do meu peito. Ficam apenas ali, em vagas de inquietude, cegas na descoberta do caminho que lhes daria liberdade, perdidas nos corredores do meu sangue. Agitam-se como aves em debandada, num rumor aflito que me perturba... Debatem-se... Quero dizer-tas mas não consigo... Perdoa-me o silêncio, este silêncio denso entre nós, mas às vezes as minhas palavras fazem-me lembrar ondas salgadas, que por mais que se desfaçam na areia, continuam pertencendo sempre à imensidão do mar...
Palavras perdidas
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Ó Stora...
domingo, 27 de setembro de 2009
sábado, 26 de setembro de 2009
Palavras de Amor
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Cá dentro
Falavas tantas vezes delas, avó. Na altura eu era pequena e não entendia o que dizias enquanto me abotoavas a fileira de botões pequeninos em forma de coração, nas costas do vestido de chita florido. O assunto incomodava-te, moía-te os nervos como um dia húmido de nevoeiro. Respingavas nervosamente as palavras e terminavas com responsos quase inaudíveis enquanto me davas a laçada perfeita no vestido. Eu sentia-te zangada, a fúria contida a custo, disfarçada na ponta dos dedos enquanto ajeitavas os crisântemos na pesada jarra de vidro vermelho da sala de jantar. Hoje já as conheço, avó, as pessoas de que me falavas tantas vezes. E sabes, também me incomodam... Também me irritam com a iniciativa de dar conselhos em tom paternal, os lábios cínicos pejados de sabedoria e pena... Também me enervam as pessoas extremamente sábias, que vivem vidas perfeitas em mundos ilusórios e que gostam de aconselhar os outros, depositando pancadinhas consolatórias em ombro alheio. Eu não as compreendo. Mas sei que não fazem por mal, avó, elas apenas se esquecem que as pessoas não são todas iguais... Imagina só que trabalheira, pensar que somos todos diferentes! Elas não sabem, avó, das portas fechadas de cada um, dos abismos, dos oceanos de inquietude e dos desfiladeiros no peito dos outros... E tu sabias porquê, tu dizias que elas só se viam e ouviam a si próprias, o umbigo no centro do mundo... Tinhas razão. E é por isso que quando me dão conselhos que nunca pedi, eu fecho as mãos em punho, escondo-as nos bolsos para que ninguém me adivinhe a ira e o desconforto, e não digo nada. Lembro-me de ti e deixo-as lá...Porque elas não fazem por mal.
Saudades de ti, avó...
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Outono
A Terra prepara-se para dormir um longo sono até à Primavera - explicou há muitos anos a professora da escola primária, quando nos ensinou as estações do ano. E penso que foi nesse momento que eu decidi que não gosto do Outono, desta nudez dos jardins, das ruas cheias de folhas castanhas que gemem debaixo dos pés dos passantes, dos dias subitamente mais curtos, da pele arrepiada pedindo um agasalho ao fim do dia... Não gosto deste adormecer da natureza que se despede trazendo o vento norte, a chuva oblíqua e gelada, as manhãs menos brilhantes e a passarada em revoadas aflitas, procurando outros rumos onde o entardecer pinte ainda de rubro os céus luminosos. O Outono é uma estação triste... Parece que tudo se despede e parte...
Hoje enquanto conduzia, um locutor na rádio informava que esta é a estação dos suicídios e das depressões, sobretudo nos idosos. E compreende-se. Entende-se perfeitamente que um idoso só e doente, não queira viver dias frios e escuros, infinitos, no silêncio de uma casa vazia... Entende-se que um idoso só e triste, não tenha forças ou dinheiro para sair de casa e comprar castanhas quentinhas, romãs suculentas ou diospiros doces e carnudos... que não possa iluminar e aquecer a casa, o corpo ou a alma, neste Outono que hoje entrou sem fazer ruído... Por isso tantos se despedem... e desistem.
Mas o Outono chegou e fica. Imperturbável, na sua sabedoria inimitável, a natureza segue tranquilamente o seu ritmo, velho como o mundo, tão antigo como a vida... E nós, com o coração mais ou menos carregado, seguimos com ela.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã
Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.
José Luís Peixoto
Ó Stora...
Sem Palavras
Quiseste um dia escrever sobre esse cheiro, que não é bem mar nem sal, que sabe um pouco a vento, que traz calor agarrado. Havia um odor que te sabe a infância, mas sabias lá como dizê-lo: e assim aprendeste a coisa mais importante quando se escreve, que há coisas que simplesmente não têm palavras para elas.
Rodrigo Guedes de Carvalho, Alguém que me ensine para onde ir
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Inquietudes
À hora marcada eu lá estava e encontrava-a invariavelmente na mesma posição, sentada à janela numa cadeira de baloiço, daquelas que já ninguém tem, as mãos abraçando com delicadeza uma chávena de chá que fumegava brandamente em espirais brancas de aroma a laranja. Enquanto esperava, observava fascinada aqueles olhos negros, negros, brilhantes como luas, mas estranhamente quietos. Nunca tinha visto uns olhos assim e não conheço mais ninguém com olhos negros. Cumprimentava-me com um sorriso meigo, um sorriso que fazia nascer inesperadas covinhas infantis no rosto impenetrável, e dizia sempre a mesma coisa: "Estou a escrever histórias". Eu acreditava. Acreditava que ela era capaz de se embrulhar para dentro, e escrever histórias sobre um mundo onde era livre, longe daquela casa que a prendia como garras, que a algemava à tristeza dos dias infinitos de solidão. Soube há pouco que ela morreu hoje. Vou recordá-la sempre... Afinal, foi com ela que percebi que podemos escrever para dentro, histórias que ninguém lerá, mas que nos transportam aonde quisermos ir. Foi com ela que entendi que escrevemos para nos livrarmos de alguma coisa, de um peso qualquer que mais ninguém sente e mais ninguém compreende. Coisas nossas, cá dentro, que por vezes nos pesam como chumbo, mas têm ao mesmo tempo um perfume a laranja que nos aquece o coração viajante.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Vox populi, vox Dei
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Da esperança
sábado, 12 de setembro de 2009
Gostar de ti
Nunca to disse, como podes tu saber? Como vais adivinhar que eu gosto de ti, se sempre calei as palavras, envergonhada com o que irias pensar se to dissesse abertamente? Que coisa estúpida, calar os afectos por pudor, por timidez ou preconceito... Gostar de alguém é uma coisa boa... porque é tão difícil confessá-lo? Esperamos sempre que as pessoas nos adivinhem as emoções nos gestos, que as leiam nos sorrisos, nas palavras, nos olhares... E não as dizemos. Mas os afectos são tesouros que devem ser ditos. Hoje digo-te que gosto de ti e sei, cá dentro, que tu também gostas de mim. Nunca mo disseste... mas são coisas que o coração sente. Sim, eu sei, às vezes o coração engana-se... Mas não aqui, entre nós. Nós sabemos. Sabemos que nos gostamos. Apesar de nunca o termos dito.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Fácil de entender...
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Palavras despidas
domingo, 6 de setembro de 2009
Palavras possessivas
sábado, 5 de setembro de 2009
Nos meus gestos
Um rio caudaloso e fundo
correu entre nós desde aquele dia.
Eu sei, já não sou a mesma.
Mas o mesmo tempo que me branqueou os cabelos
e cavou rugas no meu rosto,
doirou-me os gestos de doçura
e fez nascer borboletas nos meus dedos
que voam a tocar os fios do teu cabelo
quando lhes bate o sol de mansinho.
Por isso... que importa, afinal?
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Sem olhar para trás
Eu não gosto de escolher. Mas por vezes a vida conduz-nos a encruzilhadas onde inevitavelmente é preciso fazer escolhas. Perante duas portas fechadas, qual abrir? E sabemos que qualquer que seja a escolha, iremos sempre perder e ganhar... porque a vida dá com uma mão e tira com a outra. Este momento que antecede a decisão, atira-me para dentro de mim, caio num silêncio implacável, como num poço sem fim, batendo contra as paredes da alma, buscando na solidão vazia, a chave da porta que vou abrir. Em plena sintonia com a semântica do meu signo, imito a atitude do caranguejo, recolho-me na carapaça e enterro-me na areia... Porque há escolhas irreversíveis. Definitivas. Eternas. Difíceis de fazer, por isso mesmo. Mas hoje, finalmente, eu encontrei uma chave. A minha chave vai abrir uma porta... e eu não sei o caminho que existe do outro lado. E vou abri-la mesmo assim. A outra porta permanecerá ali, eternamente fechada. Porque depois da escolha feita, nunca me interrogo sobre que estrada haveria debaixo dos meus pés se eu tivesse usado outra chave, aberto outra porta, seguido outra direcção nas encruzilhadas da vida. Apenas sigo em frente. Sem olhar para trás.
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