quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Minha culpa, minha tão grande culpa

Tenho que regressar urgentemente à leitura. E à escrita. 

Culpo-me constantemente, diariamente, dolorosamente, destes dias corridos sem uma linha lida, sem uma palavra escrita. Escrevo cadernos de intenções, faço listas de prioridades, forro o frigorífico com post-its coloridos só para viver o gozo de falhar as promessas todas, sem exceção. E o dia terminado, já de luz apagada, o corpo quente, dormente, inerte debaixo dos lençóis, juro que amanhã é que é, amanhã é que vai ser. Faz-me falta o cheiro de um livro, a música do teclado fazendo nascer um texto. Tenho um romance na cabeça, um livro de contos, meia dúzia de poemas que me sussurram ralhos desdenhosos, intolerantes da minha indolência. Tenho saudades da companhia de um livro. Tenho saudades de textos esboçados.

Amanhã recomeço. Amanhã regresso. Sem falta.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Palavras Roubadas

Nos teus dedos nasceram horizontes

e aves verdes vieram desvairadas

beber neles julgando serem fontes.


Eugénio de Andrade

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Noite Cerrada


É tarde. A cidade agasalhou-se por detrás das persianas corridas das casas.

Uma rua vazia, um homem que traz um cão pela trela. Caminha devagar, a mão direita escondida no bolso do casaco deformado. No silêncio da noite cerrada, ouvem-se apenas as unhas do cão arranhando o passeio - como um eco triste da solidão do dono.

E no escuro do céu, bondosamente, a lua sorri-lhes com a sua cara redonda pintada de branco.


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Eu, pecadora me confesso

 

Sorri envergonhada, desviei os meus olhos dos teus, ajeitei o cabelo nervosamente. O coração, um vulcão dentro do peito. 
Encarei-te por fim, e confessei:
- Sim. Ainda escrevo. Ainda te escrevo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

DE PROFUNDIS - 13 Anos!


Este blogue faz hoje 13 anos. Não sei como passou o tempo assim tão depressa, a voar, como se tivesse sido ontem que o sonhei e lhe dei forma. Quando o criei, achei-o lindo, achei-o misterioso, achei-o profundo como um oceano ou como uma noite escura. Durante anos, escrevia quase diariamente, mas depois o tempo...
O meu blogue faz anos e não merece este desprezo em que eu o tenho deixado, este abandono de folha caída num outono frio. Sinto saudades dele muitas vezes, planeio sentar-me aqui e escrever... e depois não venho. 
Este espaço continua a ser belo, continuo a gostar dele sem querer mudar nada, nadinha. 
Continuo a ser feliz aqui. Por mais que tarde o regresso.
Treze anos. Guardados aqui. 

Meu querido DE PROFUNDIS!

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Palavras Roubadas



O que me intriga é a razão do teu desejo. Porque é que queres ser mais do que isso que somos: humanos, falhados. Não temos asas, e que mal tem isso?

João Tordo, in Ensina-me a voar sobre os telhados

terça-feira, 3 de março de 2020

Preparar a solidão


Perceber que já se perdeu tudo o que um dia mais se amou,
fazer ordinariamente horas extraordinárias,
ir a diário ao ginásio, esgotar o corpo,
andar frequentemente de bicicleta,
regressar a casa pelo caminho mais longo,
prestar atenção ao que acontece dentro da copa das árvores,
não ter animais de estimação, nem mesmo plantas,
ter coragem para não recolher um cão abandonado,
nas tardes de sol visitar jardins, dar milho aos pombos,
ser amante de livros, de música e de cinema,
guardar longe da vista todas as fotografias,
dançar pela casa, a vontade não precisa de par,
evitar pensar no sentido da vida,
ter um não sei quê de ave migratória,
manter a casa limpa, mudar os lençóis, fazer a cama,
ter em casa chá, chocolate e livros de poesia,
peças de fruta, álcool e cigarros nenhuns,
ter cola, tesoura, agulha, linha, pregos,
o necessário para pequenas reparações,
ter uma caixa de primeiros socorros,
cozinhar em pequenas quantidades,
investir numa chaleira,
numa botija para água quente,
num congelador,
viajar sempre para países distantes,
não ter medo da chuva nem do choro,
não ligar a televisão só para ter luz no escuro.

Raquel Cerejo Martins, "Exercícios de preparação para a solidão", in Página do Facebook

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Palavras roubadas


Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos.

Victor-Marie Hugo

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Por vezes

Por vezes,
de um dia que vivemos,
de um filme, de um poema,
por vezes de alguém,
conservamos uma palavra.
Não saberemos explicar porquê,
mas essa palavra aloja-se dentro do nosso
pensamento,
atravessa vagarosamente os nossos silêncios,
fecha-se à chave dentro de nós.

José Tolentino de Mendonça, in O hipopótamo de Deus e outros textos

terça-feira, 22 de outubro de 2019

O Mundo Todo


vou buscar-te ao fim da tarde,
porque a noite só escurece contigo ao
meu lado, porque a noite aprende por ti
o caminho aberto das estrelas

vou buscar-te ao fim da tarde,
e verás como preparei a casa, como
escolhi a música, como, enfim, espalhei
os objectos mais impressionados contigo,
os que ganharam vida por se interporem
na espessura estreita que vai do meu
ao teu coração

e não mais te devolvo, correndo todos os
riscos de não amanhecer nunca
numa loucura propositada por ti

não mais te devolvo,
ocuparás o mundo debaixo e sobre mim,
e não haverá mais mundo sem que seja assim.

valter hugo mãe, in Contabilidade


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Palavras Roubadas


Esta ciência selvagem de investigar a força
por dentro dos olhos
(...)


Herberto Helder, in Ofício Cantante

terça-feira, 11 de junho de 2019

"Toda a Água que Nos Une"


Novinho em folha, o meu novo livro: Um pianista. Uma escritora. A história de um improvável amor na cidade onde é bom viver.

No dia em que entra o verão, sintam-se todos convidados!

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Escreve (me)


(...)
Talvez sejamos mais
do que pessoas, temos tamanhos diferentes
e não servimos nos lugares que nos foram destinados.

Escreve sempre que precisares de uma porta
onde caibas,
nunca trago chaves comigo.

Margarida Ferra, in Sorte de Principiante

segunda-feira, 8 de abril de 2019

SEI


Sei ao chegar a casa
qual de nós 
voltou primeiro do emprego

Tu

se o ar é fresco

Eu

se deixo de respirar
subitamente.


António Reis, in Novos Poemas Quotidianos

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Pretexto


Tudo no teu sorriso diz
que só te falta um pretexto 
para seres
feliz.

Mário Cesariny

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Não há machado que corte...!


Durante várias semanas tive o meu blogue censurado. Conseguia aceder à página, visualizar os conteúdos, mas não podia fazer publicações. A mensagem que me surgia deixou-me, este tempo todo, perplexa: Site malicioso, com origem desconhecida: conteúdos pornográficos.

A primeira vez que li a mensagem, passei o blogue a pente fino à procura de nudez explícita, linguagem indecorosa, qualquer coisa escandalosa e ofensiva - não encontrei nada. Não que eu não soubesse o que aqui tinha escrito, que imagens tinha escolhido, mas podia ter-se dado o caso de um ataque qualquer informático e um vírus ter corrompido os meus textos. Obviamente, aqui não existe nada de ofensivo, de indecoroso, de escandaloso, de violento, racista, xenófobo... Aqui sou só eu, sem fel nem azedume.
Tive muito trabalho, muita chatice, para poder recuperar este meu cantinho. Informaram-me os senhores invisíveis que houve uma denúncia e em caso de denúncia, que fazem os senhores corretíssimos que mandam nisto tudo? Vedam o acesso ao bloguer, pura e simplesmente. Não vão confirmar, não vão verificar, não vão ler: cortam. Ponto. Final.

Agora que tudo está, aparentemente, resolvido, espero regressar com normalidade à escrita, quando me apetecer, sempre que me apetecer. Aproveito para agradecer aos leitores que teimosamente ainda por aqui passam, e desejar-lhes um ano feliz. Ao anónimo que me denunciou e me arranjou uma carga de trabalhos, deixo também um abraço amigo e um desejo sincero: seja muito feliz, está bem?

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

2019...!


(Em 2019...),
Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz.

Madre Teresa de Calcutá


A todos os que me visitam, desejo um Feliz Ano Novo! 

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Ó Stora...


- Ó Stora, sabe porque é que o professor de Física terminou o namoro com a professora de Biologia?

E eu, que nem sequer sabia que eles namoravam, fiquei aparvalhada com a pergunta e respondi-lhes que não fazia a mais pálida ideia... Desmancharam-se a rir e lá responderam:

- Porque não havia Química!

(Danadinhos... Às vezes acho-lhes mesmo graça...!)